O CDC Manicoré, time do interior do Amazonas viaja dois dias de barco,
enfrenta perigos no trajeto e chega na maioria das vezes na hora dos jogos
A
333 km da Capital Manaus em linha reta, situado a margem direita do Rio
Madeira, sua população estimada em 2010 pelo IBGE era de 47.011 habitantes e
está dividida entre a zona rural e a cidade de Manicoré. Uma das 12 sedes da
Copa do Mundo de 2014 está o Centro de
Desenvolvimento Comunitário ou (CDC Manicoré), encravado na Amazônia.
Enquanto a capital pretende investir R$ 500 milhões para reconstruir o
Vivaldão, seu principal estádio que vai ser uma das sedes da Copa do Mundo de
2014, o modesto time do interior amazonense “enfrenta” jacarés e troncos de
árvores numa aventura de barco que dura de dois a três dias de viagens pelos
rios Madeira e Negro (a distância fluvial entre as cidades é de 616 km). Tudo
isso para participar da primeira divisão do Campeonato Estadual de futebol. E
por não ter R$ 18 mil para viabilizar a viagem de avião e arcar com outras
despesas.
- Cada viagem de barco tem um custo
aproximado de R$ 10 mil para o CDC/Manicoré, contando as passagens, o
transporte em Manaus, a hospedagem e outras despesas. Se fosse de avião, só o
fretamento sairia para nós R$ 14 mil, porque teriam de ser dois aviões (de
pequeno porte), mais uns R$ 4 mil com outras despesas. Temos a ajuda da
prefeitura, mas mesmo assim não conseguimos chegar a esse valor – disse o
presidente do clube do interior do Amazonas, Roberto Soares.
Por terra, a única maneira de sair de
Manicoré e chegar a Manaus seria a rodovia BR-319, que liga a capital
amazonense a Porto Velho, em Rondônia, mas ela está desativada. Isso, aliás,
tem sido motivo de polêmica, porque organizações de proteção à Amazônia estão
preocupadas com o impacto das obras na área preservada.
Independentemente de qualquer coisa, os 27
jogadores que formam o elenco e a comissão técnica do CDC/Manicoré podem ser
considerados heróis, principalmente depois que o time caiu para serie “B” em 2010
e em 2011 conseguiu subir para a série “A” considerada a elite do Estadual.
Muitas vezes, por conta da dificuldade de logística e da falta de dinheiro para
mais dias de hospedagem, o time chega a Manaus no dia da partida.
A delegação bacurau (pássaro da região que dá
nome a quem nasce na cidade) sai do porto local às 12h. A embarcação para ainda
nas cidades de Novo Aripuanã, Borba e Nova Olinda do Norte. Tudo isso pelo Rio
Madeira. A reta final do trajeto é feita pelo Rio Negro, onde eles
desembarcaram no porto de Manaus.
Realmente não é demérito nenhum fazer uma
viagem de barco, mas certamente não é a melhor condição para um time de futebol
profissional. Ainda mais chegando ao local no dia da partida. Por sinal, para
amenizar esse desgaste, os jogadores do CDC/Manicoré fazem alongamentos e
exercícios de relaxamento na parada em Borba, que dura três horas. As outras
duas escalas têm, em média, 30 minutos.
Os perigos do Rio Madeira
Os jogadores mais acostumados com a viagem,
especialmente aqueles que nasceram em Manicoré, até brincam com essa situação,
mas para alguns deles a aventura pelos rios Madeira e Negro é de 42 horas de
pura tensão. A acomodação é feita em redes, porém tem os que levam seus
próprios colchonetes.
- O time está totalmente adaptado a essa viagem,
porque o CDC/Manicoré possui no seu plantel 100% dos jogadores da região do
Madeira, sendo 18 filhos de Manicoré e apenas 1 de Novo Aripuanã o Atacante
Felipe que já defendeu o Gigante do Madeira em anos anteriores.
No barco, que tem televisão, espaço para os
atletas passarem o tempo jogando cartas, vídeo game e outras diversões, há
apenas um enfermeiro para atender a delegação. Por questões financeiras, a
diretoria do clube opta por contratar um médico para acompanhar os atletas
apenas em Manaus. Assim, o custo é menor.
- O Ex-governador (Eduardo Braga) nos deixou
bastante esperançosos, porque com a Copa do Mundo as portas vão se abrir para o
Amazonas. Ele nos disse que já roemos bastante o osso e que agora vamos pegar o
filé – comentou, empolgado, Roberto Soares, presidente do CDC/Manicoré. Para
mandar os seus jogos no Estadual, o clube usa o estádio municipal Bacurauzão,
com capacidade para 3.500 pessoas.
Além dos perigos com os troncos de árvores
que atravessam o caminho dos barcos, a grande quantidade de animais selvagens
no trajeto impressiona, mas não chega a assustar, segundo aqueles que estão
mais acostumados. No caso dos jacarés, por exemplo, jogadores e dirigentes
afirmam que eles fogem quando vêem o barco.
Obersevação: Essa reportagem foi exibida em 2010 pelo site do globoesporte.com e o CDC Manicoré reformulou alguns pequenos trechos dessa reportagem. Mas se você internauta quiser ver a reportagem completa é só clicar nesse link abaixo.
Fonte: globoesporte.com
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