quarta-feira, 14 de março de 2012

De Manicoré a Manaus: aventura em rio para jogar o Estadual


O CDC Manicoré, time do interior do Amazonas viaja dois dias de barco, enfrenta perigos no trajeto e chega na maioria das vezes na hora dos jogos

 A 333 km da Capital Manaus em linha reta, situado a margem direita do Rio Madeira, sua população estimada em 2010 pelo IBGE era de 47.011 habitantes e está dividida entre a zona rural e a cidade de Manicoré. Uma das 12 sedes da Copa do Mundo de 2014 está o Centro de Desenvolvimento Comunitário ou (CDC Manicoré), encravado na Amazônia. Enquanto a capital pretende investir R$ 500 milhões para reconstruir o Vivaldão, seu principal estádio que vai ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, o modesto time do interior amazonense “enfrenta” jacarés e troncos de árvores numa aventura de barco que dura de dois a três dias de viagens pelos rios Madeira e Negro (a distância fluvial entre as cidades é de 616 km). Tudo isso para participar da primeira divisão do Campeonato Estadual de futebol. E por não ter R$ 18 mil para viabilizar a viagem de avião e arcar com outras despesas.

- Cada viagem de barco tem um custo aproximado de R$ 10 mil para o CDC/Manicoré, contando as passagens, o transporte em Manaus, a hospedagem e outras despesas. Se fosse de avião, só o fretamento sairia para nós R$ 14 mil, porque teriam de ser dois aviões (de pequeno porte), mais uns R$ 4 mil com outras despesas. Temos a ajuda da prefeitura, mas mesmo assim não conseguimos chegar a esse valor – disse o presidente do clube do interior do Amazonas, Roberto Soares.

Por terra, a única maneira de sair de Manicoré e chegar a Manaus seria a rodovia BR-319, que liga a capital amazonense a Porto Velho, em Rondônia, mas ela está desativada. Isso, aliás, tem sido motivo de polêmica, porque organizações de proteção à Amazônia estão preocupadas com o impacto das obras na área preservada.

Independentemente de qualquer coisa, os 27 jogadores que formam o elenco e a comissão técnica do CDC/Manicoré podem ser considerados heróis, principalmente depois que o time caiu para serie “B” em 2010 e em 2011 conseguiu subir para a série “A” considerada a elite do Estadual. Muitas vezes, por conta da dificuldade de logística e da falta de dinheiro para mais dias de hospedagem, o time chega a Manaus no dia da partida.

A delegação bacurau (pássaro da região que dá nome a quem nasce na cidade) sai do porto local às 12h. A embarcação para ainda nas cidades de Novo Aripuanã, Borba e Nova Olinda do Norte. Tudo isso pelo Rio Madeira. A reta final do trajeto é feita pelo Rio Negro, onde eles desembarcaram no porto de Manaus.

Realmente não é demérito nenhum fazer uma viagem de barco, mas certamente não é a melhor condição para um time de futebol profissional. Ainda mais chegando ao local no dia da partida. Por sinal, para amenizar esse desgaste, os jogadores do CDC/Manicoré fazem alongamentos e exercícios de relaxamento na parada em Borba, que dura três horas. As outras duas escalas têm, em média, 30 minutos.

Os perigos do Rio Madeira

Os jogadores mais acostumados com a viagem, especialmente aqueles que nasceram em Manicoré, até brincam com essa situação, mas para alguns deles a aventura pelos rios Madeira e Negro é de 42 horas de pura tensão. A acomodação é feita em redes, porém tem os que levam seus próprios colchonetes.

- O time está totalmente adaptado a essa viagem, porque o CDC/Manicoré possui no seu plantel 100% dos jogadores da região do Madeira, sendo 18 filhos de Manicoré e apenas 1 de Novo Aripuanã o Atacante Felipe que já defendeu o Gigante do Madeira em anos anteriores.

No barco, que tem televisão, espaço para os atletas passarem o tempo jogando cartas, vídeo game e outras diversões, há apenas um enfermeiro para atender a delegação. Por questões financeiras, a diretoria do clube opta por contratar um médico para acompanhar os atletas apenas em Manaus. Assim, o custo é menor.

- O Ex-governador (Eduardo Braga) nos deixou bastante esperançosos, porque com a Copa do Mundo as portas vão se abrir para o Amazonas. Ele nos disse que já roemos bastante o osso e que agora vamos pegar o filé – comentou, empolgado, Roberto Soares, presidente do CDC/Manicoré. Para mandar os seus jogos no Estadual, o clube usa o estádio municipal Bacurauzão, com capacidade para 3.500 pessoas.

Além dos perigos com os troncos de árvores que atravessam o caminho dos barcos, a grande quantidade de animais selvagens no trajeto impressiona, mas não chega a assustar, segundo aqueles que estão mais acostumados. No caso dos jacarés, por exemplo, jogadores e dirigentes afirmam que eles fogem quando vêem o barco.

Obersevação: Essa reportagem foi exibida em 2010 pelo site do globoesporte.com e o CDC Manicoré reformulou alguns pequenos trechos dessa reportagem. Mas se você internauta quiser ver a reportagem completa é só clicar nesse link abaixo.


Fonte: globoesporte.com

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